2008/06/23

A Voz dos Deuses - João Aguiar

Ouvi falar pela primeira vez deste livro e fiquei muito curioso por causa do tema que tratava... A vida e história de Viriato. Em conversa com uma amiga minha que está a tirar um curso em que tem de ler obras de literatura portuguesa posteriores a 1974, fiquei a saber que esta era uma das leituras "obrigatórias" (não gosto nada da palavra "obrigatório" quando se refere à leitura). Como eu já andava bastante curioso em relação a este livro, as dicas que ela me foi dando acerca dele impeliram-me a ir requisitá-lo à biblioteca e mergulhar no século II a.C., altura em que a Península Ibérica estava dividida em diversas tribos e em que os romanos lutavam para as dominar.

Este livro foi o primeiro romance de João Aguiar, o que de certa maneira pode explicar a razão pela qual a msua maneira de escrever não me ter encantado muito por aí além. De facto, não achei que estivesse escrito de forma inovadora ou até mesmo interessante, do ponto de vista literário. Trata-se de uma história normalzinha, sem nada de significante a realçar: Tôngio, sacerdote do Templo de Endovélico (um dos principais locais de culto ibéricos à época a que a narrativa nos remete) conta, no fim da sua vida, a forma como nasceu, cresceu e viveu numa Península Ibérica invadida pelos romanos, na tentativa de expandirem o seu Império até ao Atlântico. Vai daí, deambula pela Península até encontrar Viriato, famosa figura de que todos nós estamos habituados a ouvir falar desde que somos pequenos e ao qual é dado o epíteto de fundador, mais mítico que histórico, da nacionalidade portuguesa (como se à época houvesse essa coisa dos nacionalismos e como se ele imaginasse que alguma vez aqui, no extremo ocidental da Península, haveria de se formar um país chamado Portugal).

Curioso é o facto de João Aguiar, logo na advertência inicial, dar conta de que o seu objectivo com esta história é retratar um Viriato não mítico, mas mais de acordo com aquilo que se pode extrair dos documentos históricos que existem e que falam desta personagem tão famosa. Ora, o que acaba por acontecer é precisamente o contrário. João Aguiar faz-nos tomar contacto com um herói romantizado que almejava ser rei de toda a Ibéria e que é simultaneamente um general exímio, um diplomata exemplar, sóbrio no que respeitava a reclamar para si os espólios de guerra, fidelíssimo à sua mulher, entre outros aspectos do seu carácter que o tornavam... perfeito.

Pois bem, o resultado final ficou um pouco aquém daquilo que eu estava à espera, mas aparentemente essa foi precisamente a razão pela qual se incluiu esta obra numa cadeira que trata de literatura portuguesa pós-1974.

7 estrelas (para ser bonzinho)

2 comentários:

Pedro disse...

=/

Fiquei dividido com a tua opinião. Confesso que gostaria de ler o livro, uma vez que gostei muito de "Inês de Portugal". As expectativas baixaram um pouco.

Portanto, talvez reconsidere... Depois do que tu escreveste, vou fazer assim: quando passar por uma livraria, terei em conta estes três livros: "A Voz dos Deuses", "Uma Deusa na Bruma" e "A Hora de Sertório", que são aqueles que gostaria de comprar. Se um deles lá estiver, fica decidido.

De qualquer maneira, parece-me que o autor desenvolve, de alguma forma, as suas personagens... E parece ser uma boa reconstituição histórica.

Trovador disse...

Olá Pedro. Antes de mais, obrigado pelos teus comentários.

O que te posso recomendar a fazeres é não ligares a estas pseudo-críticas (como eu lhes chamo, porque legitimidade para fazer críticas é que tenho de menos) e leres o que bem te apetece. Isso é que é importante! Se gostas de romances históricos, se gostas da figura do Viriato, se gostas da forma como João Aguiar escreve, então, lê A Voz dos Deuses. É provável que não te vás arrepender. A tal minha amiga que teve de ler o livro para aquela cadeira adorou-o. Eu é que estava à espera de um pouco mais, talvez porque já tinha ouvido falar do livro e tinha expectativas "elevadas". No entanto, parece-me que não é um livro que costuma desiludir. Faço-te então uma sugestão: que tal requisitares o livro numa biblioteca (tal como eu fiz)? Ou então, a próxima vez que passares por uma livraria onde haja esse livro, experimentas abri-lo e folheá-lo um pouco. Dedicas-lhe cerca de 10 minutos e, se te sentires "convencido", leva-o (segundo sei, o livro até nem é caro).
Não deixes é de o ler se tens curiosidade em fazê-lo.

Boas leituras e até breve!