2010/12/02

A Viagem do Elefante - José Saramago

Terminada a leitura deste livro, fiquei com a ideia de que estava à espera de algo diferente. De facto, foi um livro que não me surpreendeu tanto como eu gostaria que me surpreendesse. A história tem tanto potencial...

Não é que Saramago não a saiba aproveitar. No entanto, aqui como em quase todos os seus romances (à excepção de 3 ou, quanto muito, 4) o autor perde-se na narração e à medida que nos vamos aproximando do fim da história, fica a sensação de que perdeu demasiado tempo com prolixidades desnecessárias para depois acabar tudo atabalhoadamente. Saramago deixa-nos com aquela vaga sensação de que estivemos quase a chegar ao patamar do sublime, mas que, por falta de gasolina, ficámos a meio caminho.

Não quero ser injusto e dizer que este livro não vale a pena ser lido. Antes pelo contrário, é até um dos melhores que dele li nos últimos tempos. De facto, há sempre umas quantas passagens que são muito interessantes (veja-se as perspicazes observações da personagem Subhro), e ninguém como Saramago para narrar acontecimentos como se os tivesse presenciado, mas com os olhos do presente, não sem deixar cair aqui e ali umas pitadinhas, qual sal e pimenta nos seus romances, dos seus tão característicos sarcasmo e ironia. Ah, neste sentido não podemos deixar de acrescentar o engraçado que é ver Saramago atirar umas quantas farpas à Igreja Católica. Que zangado que ele andava com ela para o fim da vida...

Enfim, um bom livro, mas não um livro memorável.

7 estrelas

2010/05/21

O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder

E as minhas expectativas não saíram frustradas! De Jostein Gaarder já li A Rapariga das Laranjas, mas sinceramente o autor norueguês não me convenceu com ele. No entanto, com O Mundo de Sofia consegui perceber por que se tornou tão famoso este escritor.

A primeira vez que ouvi falar deste livro foi por altura do 10º ano, quando a minha professora de Introdução à Filosofia nos deu excertos dos primeiros capítulos, acerca do que faz um verdadeiro filósofo. Foi essa lembrança que me fez ter sempre uma imensa curiosidade em lê-lo. E agora que já está lido, posso dizer que gostei bastante desta viagem pela História da Filosofia Ocidental, desde os filósofos pré-socráticos, até aos existencialistas de meados do século XX.

(se não gostarem de spoilers, evitem ler o próximo parágrafo)

Porém... Devo dizer que fiquei um pouco surpreendido com a reviravolta a meio da narrativa, quando ficamos a saber que tudo brota da mente de um soldado das forças de paz estacionadas no Líbano em 1990. Mais estranho seria difícil e para se ter a noção de quão estranho é, só mesmo lendo o livro! Claro que compreendo que essa opção surja no preciso momento em que se fala de Berkeley, tendo como objectivo fazer-nos (a nós, os leitores) pensar sobre o mundo que nos rodeia (será isto tudo real?), mas torna a história esquisita, além de não estar em concordância com o seu início (por que é que só a meio é que a Sofia começa a ver personagens estranhas, e não logo desde o início?). Também não gostei especialmente do final, com Alberto e Sofia a vaguear por aí, pois não me pareceu uma conclusão satisfatória para as personagens.

(fim dos spoilers)

Mas uma coisa é certa: adorei esta súmula da Filosofia Ocidental, enquadrada historicamente, transmitida de uma forma claríssima. Senti que faltaram alguns filósofos que, mesmo não sendo importantíssimos, ajudariam a estabelecer e compreender melhor as matrizes por que se pauta a nossa cultura, nomeadamente no que ao plano político diz respeito (Maquiavel, Hobbes, Nietzsche). Por outro lado, pareceu-me estranha a inclusão de Charles Darwin e de Freud num curso de Filosofia, apesar de perceber que eles lá estão, assim como o capítulo final, o do Big Bang, para relativizar a nossa importância e a nossa concepção do ser humano no universo.Enfim, quanto ao conteúdo, acho que muito se pode extrair deste livro e é por isso que acho que vale muito a pena lê-lo.

8 estrelas

2010/04/14

Os Anagramas de Varsóvia

É certo que as temáticas de Zimler parecem ser sempre as mesmas, mas tenho de confessar que continuo a gostar muito deste autor. Além disso, as épocas e os locais são sempre diferentes e isso permite-nos distanciarmo-nos de eventuais repetições. E uma história empolgante e emocionante como esta é sempre um bom motivo para ler um livro. No entanto, o meu preferido continua a ser Goa ou o Guardião da Aurora.

2010/01/27

A Viagem do Elefante - José Saramago

O título do livro é elucidativo: conta-nos a viagem que o elefante Salomão faz de Lisboa até Viena, acompanhado pelo seu cornaca.

Gostei sobretudo daquilo de que gosto sempre em Saramago: o constante interpelar do leitor e a provocação. Agradou-me ainda a história de amizade entre o elefante e subhro e a caracterização indirecta de Salomão que o torna muito próximo de um ser humano.

No entanto, ao contrário dos últimos romances que li deste autor, este não é um livro que nos deixe ansiosos por saber o final. Em vez disso, permite-nos ler devagar, sem pressa de chegar ao fim da viagem (a deles e a nossa).