2006/07/27

O sumiço da Santa, uma história de feitiçaria – Jorge Amado

Este livro só podia ser deste autor. Capítulos curtos, ao sambar da pena, sempre brincando, requebrando os temas, sem pressas e com muito humor. Sinceramente, este é daqueles escritores que eu invejo, pela capacidade de escrever do nada, com um encolher de ombros, deixando-nos impressões fortes, como se nada fosse.
O romance é muito divertido, por vezes sinto que perco um pouco o pé por desconhecer pessoalmente a realidade de que ele fala, a Bahia e todos os seus mitos. Ele também não explica muito, como se o mistério fosse o mais importante e mesmo assim, quase nada, quase nada, deixa para lá, entra no ritmo, dois para cá dois para lá: isso aqui é um pedacinho de Brasil, desse Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz ...

2006/07/21

O Senhor Ferdinand - Agnès Guldemont e Carll Cneut



Este livro em belíssimas ilustrações, não posso dizer o mesmo da história. A este nível ficamos sempre à espera de algo que se perdeu e que continua perdido ad infinitum.
Nenhuma das linguagens - nem a visual nem a verbal - me parecem adequadas para crianças.

Catarina e o urso sem rumo pelo mundo - Christiane Pieper


Este livro é um encanto. Tem ilustrações deliciosas e vale sobretudo por elas: são vivas, expressivas, interessantes! A história sofre (ou participa?) da falta de rumo da Catarina (e do urso) mas quem é que disse que todos os passeios servem para chegar a algum lugar? Era tão bom às vezes poder sair, assim, com a companhia de um urso amigo, sem rumo pelo mundo... :)

Editado para acrescentar: o meu filho, que tem 22 meses, já me anda a ensinar a ler livros. Ontem ensinou-me que este livro se pode ler com o corpo, imitando as posturas da Catarina (ele) e do Urso (eu!). Nunca tal me teria passado pela cabeça. As virtualidades de um olhar sem preconceitos!

O Confessor - Daniel Silva

este livro é um policial mediano: não traz novidades; não deixa saudades.
O enredo é bastante óbvio e o desenlace também.
A propósito da história ressaltam duas ideias, repetidas à exaustão:
a) o silêncio do Vaticano quanto ao holocausto;
b) a justificação do Estado de Israel.
Nenhuma das questões em causa é tão simples como o autor quer fazer parecer. A "desculpa" de que estamos perante um romance também não colhe: quem quer fazer um romance histórico - e não há dúvidas quanto a tais pretensões neste caso - deve ser exacto quanto aos dados que promove e às teorias que defende. Neste livro não há rigor histórico Apenas páginas e páginas de propaganda.

Talvez um dia se escreva um livro sobre o silêncio do Ocidente diante do conflito do Médio Oriente.

Se eu fosse muito alto – texto de António Mota ilustrações de André Letria

Este livro tem a enorme virtualidade de nos pôr a imaginar. Um texto muito simples – uma ou duas frases por ilustração, ilustrações curiosas, bem dispostas e fica no ar esta pergunta: se fosses muito alto, o que é que fazias?

Este é um tipo de pergunta que estimula muitíssimo a imaginação. O tipo de variações são virtualmente ilimitadas: se eu fosse muito baixo, se eu voasse, se eu fosse um animal, se eu fosse rei, se eu fosse pai, se eu fosse... e por aí adiante. Estes exercícios obrigam as crianças a uma ginástica mental óptima: chama-se imaginação. Neste caso obriga-os a colocar-se naquela situação e a imaginar como seria o mundo para elas nesse caso. Os pais até podem fazer a história ao desafio: cada um dá uma ideia do que faria ou aconteceria naquela situação.

Gostei deste livro ainda por outra coisa: é que a maior parte das coisas que o autor faria, se fosse alto, era pôr a sua altura ao serviço dos outros: compôr antenas, limpar chaminés, apanhar balões... e esta ideia é muito interessante, também, para explorar com os miúdos: o autor se tivesse aquela qualidade punha-a ao serviço. E tu? Quais são as tuas qualidades? Como é que as podes pôr ao serviço? As características de cada um podem até parecer ser defeitos e tornarem-se qualidades, se encontrarmos a sua utilidade, a forma de as pôr ao serviço. É uma questão de optimismo: se uma garrafa estiver completamente vazia, um optimista não se concentra nesse vazio mas na possibilidade de mandar com ela uma mensagem, de com ela recolher água na fonte, de todas as utilidades que ela pode trazer.

O Meu e o Teu


Este fantástico livro é para se visto de olhos bem abertos (como dizia o outro) para não deixar escapar nem um bocadinho da genialidade das ilustrações de Almud Kunert que joga com o texto de Peter Geißler às mil maravilhas.
Não é um livro vulgar, não se limita à primeira vista de olhos, é para ser visto e relido várias vezes, e, ainda assim, até encontrarmos o "Meu" e o conseguirmos distinguir do "Teu" serão necessárias muitas visitas!
Também não é um livro para os mais ortodoxos (é possível que se percam no meio de tanta liberdade criativa e de interpretação). Quanto aos outros, mais novos ou mais velhos, mais literatos ou menos, mais artísticos ou azelhas, enfim, aqueles que ainda não perderam o dom de sonhar com os olhos abertos, esses sim vão, sem dúvida deliciar-se com esta busca!
"O Teu não gosta de se deixar encontrar.
O Meu posso atar."
"O Teu sabe ler livros grandes.
O Meu, antes era pequeno"
Uma belíssima edição d'O Bichinho de Conto, a não perder.
Continuem, sempre, em boa companhia!

2006/07/18

Os Lugares de Maria - Margarida Botelho

Os lugares de Maria são maravilhosos. É um livro para crianças muito bem ilustrado que abre caixinhas mágicas com palavras diferentes feitas de números e desenhos. São caixas muito diferentes, as que se dizem e as que se vêem. As que se lêem e as que se ouvem. Muitíssimo recomendado. Todos devíamos ter caixas daquelas!

2006/07/17

Ainda nada?



"De manhã, bem cedo o Senhor Luís abriu um buraco ENORME na terra(...)"

Imaginem que plantam uma semente na terra e que têm tanta, tanta, mas tanta vontade de a ver crescer que não querem perder nem um bocadinho do seu crescimento...

Assim estava o senhor Luís, cheinho de vontade de ver a sua semente creser e virar flor! Mas de tanto esperar a sua paciência começou a faltar e a cada manhã que a ela se abeirava maior era o seu desânimo: "Ainda nada?"

Esta é uma história para ensinar a esperar que o tempo corra e com ele as mudanças aconteçam. Para miúdos e graúdos, para contar, inventar, acrescentar, brincar, enfim... ler de preferência em voz alta e bem acompanhado!

De Christian Voltz com ilustrações bem ao estilo da Kalandraka.

Comtinuem em boa Companhia!