2006/05/31

A Invenção do Dia Claro - Almada Negreiros


O meu maior problema com este comentário é lutar contra a vontade emergente de transcrever na totalidade os textos de Almada sem deixar uma só palavra de fora. Isto porque o livro é um todo formado por III Partes seguidas pelas "Démarches para a Invenção" e acompanhadas por "Confidencias mais Intimidades Geraes" que, se tiradas do seu contexto perdem não só em significado, como em termos rítmicos e até metafóricos. Além disso, a minha vontade era mesmo partilhar com todos o prazer imenso que retiro desta leitura!
Assim, e na impossibilidade de vos deixar aqui a imensidão poética deste 'dia claro', derramo apenas um pouco do muito que nos dá a beber Almada Negreiros, apenas o necessário para humedecer os lábios de vontade de ler o todo desta belíssima edição fac-similada do "primeiro milhar" impresso "aos trinta dias do mez de novembro de mil novecentos e vinte e um, nas Oficinas da Sociedade Nacional de Tipografia".
"Entrei numa livraria. Puz-me a contar os livros que ha para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido."
Pág. 11 (O Livro)
" O preço de uma pessôa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos das pessôas . As palavras dançam nos olhos das pessôas conforme o palco dos olhos de cada um."
Pág. 19 (As Palvras)
" Quando copiei pela ultima vez a Invenção do Dia Claro, sobejou uma frase que não me recordo a que alturas pertence. A frase é esta:
Ha systemas para todas as coisas que nos ajudam a saber amar, só não ha systemas para saber amar!"
Pág. 44 (Uma frase que sobejou)
Para finalizar, que o dia já vai alto, gostava muito de deixar mais um cheirinho, o magnífico texto "A Verdade" (Pág. 45) mas como é extenso (e antes que acabe mesmo por copiar todo o livro) terei de me ficar pela menção da sua genialidade!
Continuem em boa companhia!

2006/05/18

Se Numa Noite de Inverno Um Viajante - Italo Calvino



É um livro diferente de todos os livros que li até agora. Entra-nos pelas folhas fora (sim é mesmo isso que quero dizer) sem pedir licença e trata-nos por tu.
"Estás a comecer a ler o novo romance Se numa noite de Inverno um Viajante de Italo Calvino. Descontrai. Recolhe-te." (Pág.7)
Depois envolve-nos numa teia de histórias, personagens, lugares, cheiros, sabores e, enquanto se vai perdendo neste enredo de enredos (o que acaba mesmo por acontecer) começam a adivinhar-se os verdadeiros personagens - O Livro, A Editora, e por último o leitor e a leitora. E, embora a certa altura seja inevitavel que uma certa frustração nos comece a afastar a vontade de continuar a ler, vale a pena mantermo-nos fieis e ficarmos até ao fim.
"Ler (...) é sempre isto: há uma coisa que ali está, uma coisa feita de escrita, um objecto sólido, material, que não se pode alterar, e através dessa coisa comparamo-nos com outra coisa qualquer que faz parte do mundo imaterial, invisível, porque é só pensável, imaginável, ou porque existiu e já não existe (...) ou que não está presente porque ainda não existe (...) ler é ir ao encontro de qualquer coisa que está para ser e que ainda ninguém sabe o que será..." (pág. 63)
Fiquem em boa companhia!

2006/05/15

Un papá a la medida - Davide Calí


















Esta é a história de uma mamã estupenda e da procura de um papá que esteja à altura das suas qualidades...

Essa busca começa com um anúncio nos Classificados que (caso estivesse traduzido em Português) diria o seguinte:

"Procura-se Papá tão estupendo como a Mamã, quem não tiver as qualidades necessárias escusa de aparecer"

É um livro delicioso, daqueles que se lêm com todos os sentidos! É daqueles que pede para ser contado com o livro bem pertinho para que quem ouve se possa maravilhar com as belíssimas ilustrações de Anna Laura Cantone.

Continuem em Boa Companhia!



Canto de Mim Mesmo - Walt Whitman

Gostei, não posso dizer que tenha delirado. Tem momentos francamente bons.

De alguma forma tenho que admitir: é uma realidade que sinto alheia.

2006/05/10

Eu não fui - Christian Voltz

Este livro é daquelas histórias em cadeia que explica em poucos minutos porque é que tudo está ligado a tudo, dando um exemplo.
A história é simples, as ilustrações são deliciosas... aconselho vivamente!

O Circo da Lua - André Gago

Este livro é muito interessante, não apenas pelas ilustrações, que são muito boas, mas sobretudo por uma história que mostra como podemos escolher o melhor ao pior desde que saibamos construí-lo. Diz-nos a análise SWOT que todas as ameaças são oportunidades. Há pouco tempo lia que as pessoas a quem tudo corre bem são as que conseguem aproveitar melhor as circunstâncias. Este livro diz isso mesmo, com imagens e mensagens adaptadas à idade a que se destina. Não gostei muito da parte do lobo. Paciência. Mas vale a pena lê-lo!

Estorvo - Chico Buarque

Esperava mais e melhor, confesso. É um artista bem mais completo quando compõe.

O pai no tecto - Maria Teresa Maia Gonzales

O livro está muito engraçado e o tema diz-me muito. A autora faz um truque que resulta muito bem: começar por explicar que o Tito não é um miúdo vulgar. Isto permite-lhe uma série de liberdades que de outra forma se tornariam fantasiosas. De resto está muito bem escrito, muito acessível, ou não fosse este um livro "infanto-juvenil". É daqueles que faço questão que conste da estante dos meus filhos. Um pormenor técnico, em particular: a autora domina muito bem os diálogos!

2006/05/04

The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton

Já tenho este comentário 'pensado' há algum tempo, mas deparo-me sempre com uma dúvida existencial incontornável:

-Como explicar o que sinto sobre este livro?!

Para mim este pequeníssimo livro é genial embora de uma crueldade mordaz, é fantástico (em toda a amplitude da palavra) embora não deixe de ser bizarro, posso mesmo dizer que chega a ser mórbido sem, contudo, deixar de ser simplesmente lindo...

Mas esta é a minha opinião ou melhor, esta é provavelmente a opinião de todos os que se identificam com o imaginário do homem que criou filmes, como por exemplo, Big Fish, Eduardo Mãos de Tesoura, O Estranho de Mundo de Jack ou A Noiva Cadáver...

E os outros, o que acharão os outros (aquelas pessoas estranhíssimas que não estão dentro da órbita deste planeta fantástico povoado por seres estranhos e onde a maldade é vizinha do acaso, que por sua vez é irmão da beleza...)?!

Bem, na verdade, a opinião desses é-me indiferente...

Fiquem em boa companhia!

2006/05/03

Grávida no Coração - Paula Pinto da Silva


Publicado pela Campo das Letras, este livro vai directo ao assunto: de que massa se faz a maternidade e a paternidade. A leitura do livro é muito rápida, o texto sintético, organizado em pequenos diálogos mãe/filho. Aconselho vivamente. A mim tocou-me muito. A outros não, pelos vistos. Concedo que as ideias não são novas: são provavelmente tão velhas como a maternidade e a paternidade mas - que querem? - é exactamente assim que eu me sinto - grávido no coração - em relação a todos aqueles que assumi como filhos.