2008/06/24

O Milagre Segundo Salomé, José Rodrigues Miguéis

A primeira vez que tive contacto com José Rodrigues Miguéis foi há alguns anitos, quando andava na escola secundária. O autor fora professor nessa escola lisboeta e, na comemoração de um aniversário qualquer (teria sido da sua morte ou do seu nascimento?), expuseram no átrio principal do primeio andar todos os seus livros editados. Lembro-me vagamente de o professor de Português ter recomendado a leitura de alguns dos seus livros a título individual (uma vez que não é obrigatório no programa escolar do secundário). Entre os livros expostos, encontrava-se O Milagre Segundo Salomé... O título ficou-me no ouvido. Milagre? Segundo Salomé? Escusado será dizer que fiquei curioso para saber do que se tratava, até que estreeou um filme com o mesmo nome e que lançou alguma luz sobre o tema abordado no livro: uma reinterpretação do milagre de Fátima, não remetesse o livro para os inícios dos "anos loucos".

O Milagre Segundo Salomé é um livro dividido em 2 volumes e nele encontramos vários planos (a adolescência de Severino Zambujeira, algures em finais do século XIX; os artigos de jornal de Gabriel Arcanjo; e a história de Salomé propriamente dita, desde a sua chegada a Lisboa, o bordel, o seu encontro com Zambujeira e finalmente com Gabriel, não esquecendo o "milagre"). Como se percebe, todos os planos acabam por se entrecruzar e, enquanto que a vida de Salomé se apresenta mais interessante (ainda que algo prolixa demais), a infância e os artigos de jornal de Gabriel Arcanjo parecem deslocados e algo desnecessários para a história de fundo que se pretende contar.

Enfim... Considero que este livro está muito bem escrito. No entanto, não posso dizer que este tenha sido um dos melhores livros que li até hoje. Para isso contribuiu o facto de José Rodrigues Miguéis perder muito tempo com contextualiazações históricas demasiado pormenorizadas. Se por um lado, não é desnecessária uma contextualização histórica de toda a Primeira República, por outro acho que isso acaba por tornar muito maçuda a leitura do livro, dando-se demasiada importância a factos que desmotivam para o resto da história. É igualmente pena que os nomes das personagens e dos locais não tenham sido mantidas, embora o autor tenha afirmado que esta sua obra não tinha qualquer objectivo iconoclasta

Como conclusão, o que posso dizer é que este é um daqueles livros que, na minha opinião, estão bem escritos e que trabalham uma ideia muito boa, mas não da melhor forma. O que quero dizer é que José Rodrigues Miguéis poderia ter aproveitado melhor esta ideia de "reintrepretação" das aparições de Fátima (e uma forma interessante teria sido mesmo não alterando o nome da localidade em que se deu o referido "milagre", bem como das restantes personagens).

entre as 5 e as 6 estrelas

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

mas eu penso que a contextualização histórica é fundamental para enquadrar e dotar de sentido a fabricação de um pseudo-milagre.

é muito mais importante do que o folhetim, que está bastante mais próximo da literatura de cordel, do que aquilo que seria de esperar.

são duas narrativas paralelas que, por vezes, nem parecem ter sido escritas pela mesma pessoa.

a crónica do Gabriel tem realismo, tem sumo, e faz pensar que andámos aqui durante décadas e décadas com um venda nos olhos.

a estorinha da salomé é para contentar alminhas piegas e distrair as mentes primárias da censura...

(eheh...!)