2008/10/13

Zorro - Isabel Allende

Devo começar por dizer que este foi o terceiro livro de Isabel Allende que li (tentei ler igualmente Paula, mas das duas vezes que o iniciei não consegui levar até ao fim a leitura) e penso que foi aquele de que mais gostei até hoje. No entanto, devo dizer que não me encantou totalmente. É verdade que o livro não é extremamente mau, mas também não é excepcionalmente bom. É-nos aqui oferecida uma história que não nos deixa deslumbrados e que não deixa de ser um pouco romance de cordel... As personagens são completamente estereotipadas, não faltando os bons malandros, as donzelas virgens e castas à espera de serem salvas por um qualquer príncipe encantado, os maus mesmo muito maus (que, por serem maus, só sabem fazer maldades, além de cheirarem mal) e os bons absolutamente virtuosos (que sentem escrúpulos no derramamento de sangue, mesmo enquanto lutam pela justiça).

Não faltam ainda muitas aventuras, tanto por terra, como por mar, em contacto com índios, ciganos, piratas, e todas as outras personagens que estamos habituados a ver num livro que se desenvolva na primeira metade do século XIX no Novo Mundo. Que canseira! Mas de alguma maneira Diego tinha de aprender todas as habilidades possíveis e imaginárias (desde o simples truque de ilusionismo de algibeita, até às complicadas acrobacias circenses) se desejava ser um Zorro que se prezasse...

Considerei a parte da infância de Diego bastante empolgante, mas o resto do livro (principalmente a partir do momento em que vai para Espanha) torna-se algo chato, não nos sendo nada mais que uma mera sucessão de acontecimentos, alguns interessantes, outros nem tanto, não passando de bocejos prolongados. O que é um problema para mim, já que não consigo ler na diagonal e saltar as partes mais desinteressantes de seja qual for o livro.

Enfim, permanece em mim a sensação de que Isabel Allende é um pouco sobrevalorizada enquanto escritora, mas o apelido terá sempre o seu peso. Em todo o caso, gostei deste livro por a autora se ter cingido mais ao real e não se aventurar pelo fantástico (como aconteceu n' A Cidade dos Deuses Selvagens, livro que detestei).

Não sei... Aí por volta das 7 estrelas.

2008/10/06

O Último Cabalista de Lisboa - Richard Zimler

Decidi iniciar com esta posta uma série de quatro apontamentos sobre um dos autores que tive o prazer de conhecer este ano: Richard Zimler. Uma amiga falou-me deste autor e, ao fazê-lo, deu-me a conhecer o facto de haver 4 livros que andavam à volta de diferentes ramos de uma família de judeus portugueses. Se curiosidade de ler os livros deste autor eu já tinha, esse foi o principal impulso para iniciar a "árdua" tarefa (mas muito agradável) de ler esses 4 livros de Richard Zimler. E mais do que ler, acho que os devorei! Para terem uma noção, acabei de ler O Último Cabalista de Lisboa no princípio de Agosto, dez (!) dias depois já tinha terminado o Goa ou o Guardião da Aurora e no segundo dia de Setembro já tinha despachado o Meia-Noite ou o Princípio do Mundo. A Sétima Porta acabei-a no princípio de Outubro.

Comecemos pelo princípio. Richard Zimler é um escritor norte-americano naturalizado português e radicado actualmente no Porto. Decidiu escrever sobre uma família de judeus portugueses. No entanto, não o fez de forma convencional. Imaginou vários ramos da família ao longo da História e, assim, escreveu a saga da família Zarco desde o início do século XVI até aos finais do século XX. Confusos?

A história da família Zarco começa com o livro O Último Cabalista de Lisboa, policial ambientado no século XVI que, para além de nos dar o mote para os restantes livros, relata de forma um pouco cruel (mas, por isso mesmo, realista), algo que tem sido afastado dos manuais de História: o massacre de judeus que ocorreu na capital portuguesa em 1506, incitado pelos dominicanos no Rossio. Foram mortos nesses dias de Páscoa cerca de 2000 judeus por serem os "culpados" da seca que grassava na cidade.

Esse é o ambiente, mas não o fulcral da narrativa. Berequias Zarco, jovem cristão-novo, descobre o seu tio assassinado no esconderijo da sua casa, em Alfama. Isso leva-o (a ele e a nós, felizmente, diria eu) a passear por uma Lisboa ainda agarrada à ignorância medieval numa busca incessante pelo assassino, enquanto os cristãos-velhos se vão entretendo a queimar judeus ou a decapitá-los.

O que é fantástico de ver neste relato é a capacidade incrível de um escritor norte-americano conseguir reconstruir a Lisboa da época e também os seus arrabaldes (Campolide, Benfica, Belém), mas também o facto de inventar uma história que, não sendo absolutamente verosímil, não deixa de ser interessante. É verdade que existem demasiadas personagens (o que pode confundir um pouco a leitura; a mim confundiu, pois por vezes eram resgatadas na narrativa personagens que tinham aparecido anteriormente, mas que eu já tinha esquecido), mas isso acaba por servir da melhor forma a história, tornando-a mais credível.

Este foi um dos meus livros preferidos da saga Zarco. Porque se passa em Lisboa, porque está magistralmente bem escrito (tudo na primeira pessoa, uma das formas de narrar mais difíceis de concretizar), porque agarra desde o princípio até ao fim, porque trata de um assunto sério nas entrelinhas, porque, apesar disso, consegue ter alguns momentos bastante humorísticos (veja-se o encontro de Berequias com o ferreiro de Benfica), enfim... porque sim. Gostei muito de ler este livro e, por isso, não posso deixar de recomendar a sua leitura.

9,5 estrelas