2009/07/29

Se Isto é um Homem - Primo Levi

Relato de um italiano judeu, preso num campo de concentração perto de Auschwitz. É um retrato cru, directo e, ao mesmo tempo, simples da vida de um homem que viveu aquele horror e teve a sorte de sobreviver. Para além de descrever as atrocidades vividas/presenciadas, consegue descrever as coisas simples, as pequenas vitórias e as histórias dos que se cruzaram no seu caminho.

Esta época da História mundiasl é das que mais me horroriza e atemoriza. E, por mais filmes que veja e por mais livros que leia acerca deste tema, nunca hei-de conseguir compreender tamanha crueldade.

"Ninguém deve sair daqui, pois poderia levar para o mundo, juntamente com a marca gravada na carne, a terrível notícia do que, em Auschwitz, o homem teve coragem de fazer ao homem."

2009/07/23

O Diário de Zlata - Zlata Filipović

No geral, gostei bastante deste livro. Já tinha ouvido falar dele (quem não terá ouvido?) e tinha algum interesse em lê-lo. Acabei por ficar foi bastante surpreendido com esta "personagem" que é a Zlata Filipović, que realmente existiu e que de facto escreveu um diário que acabou por se tornar num dos mais importantes documentos da Guerra que arrasou a ex-Jugoslávia. É incrível vermos nestas páginas que uma criança de apenas 11-12 anos tinha um discernimento tão grande sobre o que a rodeava:

"Quinta-Feira, 19 de Novembro de 1992
(...) Entre os meus colegas, os meus amigos, a nossa família, há sérvios, croatas, muçulmanos. É um grupo muito misturado, e eu nunca soube quem era sérvio, quem era croata, quem era muçulmano. Agora, a política meteu o nariz e pôs um «S» nos sérvios, um «M» nos muçulmanos e um «C» nos croatas. Quer separá-los. E para escrever essas letras, usou o pior, o mais negro dos lápis. O lápis da guerra, que só escreve infelicidade e morte."

Para mim foi ainda mais interessante ler este livro, pois eu próprio, em 2007 (mais de 10 anos depois da guerra!), tive oportunidade de visitar Sarajevo e ver com os meus próprios olhos a destruição que uma guerra originada pela mesma razão estúpida de sempre (o nacionalismo, sempre o nacionalismo) provocou, levando a que inocentes sofressem desnecessariamente.

"Segunda-Feira, 29 de Junho de 1992 Dear Mimmy, ESTOU FARTA DOS TIROS DOS CANHÕES! E DOS OBUSES! E DOS MORTOS! E DO DESESPERO! E DA FOME! E DA TRISTEZA! E DO MEDO! A minha vida é isto! Não se pode criticar uma estudante inocente, de 11 anos, por querer viver. Uma estudante que já não vai à escola, que não tem alegria, que não tem as emoções dos estudantes. Uma criança que já não brinca, que não tem amigos, nem sol, nem pássaros, nem natureza, nem frutos, nem chocolates, nem bombons, só um bocadinho de leite em pó. Em resumo, uma criança que não tem infância, uma criança da guerra. Agora é que de facto compreendo que estou a viver uma guerra, que sou testemunha de uma guerra suja e repugnante (...)"

Gostei de ler este livro, por ser uma leitura em que é fácil embrenharmo-nos.

7,5 estrelas

2009/07/15

Breve História de Quase Tudo - Bill Bryson

Este livro está para a ciência como o Mundo de Sofia está para a filosofia:
dois excelentes livros que são óptimas obras introdutórias.
A Breve história tem um condão: o de nos fazer desconfiar. De nos ajudar a perceber que o que se sabe em termos de ciência é muito, muito pouco. Perceber que muitas teorias que são intocáveis para a cultura dominante são na realidade intangíveis, por falta de provas que as sustentem.

E é bom que assim seja, é saudável. Sempre que no mundo científico se teve certeza de alguma coisa só com grande esforço se conseguiu avançar, normalmente pela negação completa da crença que se tinha formado.

Confesso que já me cansam um pouco os livros de divulgação científica, porque me parecem cada vez mais parecidos uns com os outros. Cada vez mais dizem a mesma coisa e sempre a mesma coisa como se nada mais houvesse a dizer - se não havia para quê escrevê-lo?
Até os episódios anedóticos são tantas vezes os mesmos!
Por outro lado fazem falta bons livros de ciência que expliquem em linguagem simples o estado da arte nas diversas ciências. Mas era importante que fossem livros com profundidade, porque de outra forma ficamos sempre pela mesma conversa, não sentimos que adiante alguma coisa.
Este livro, fugindo àquele primeiro exemplo de livro repetitivo, também é demaisado generalista para ter a profundidade de que falo.
Nele aprendi algumas coisas e puz em causa muitas outras. É um livro inspirador, fruto de uma pesquisa enorme. E isso sente-se a par e passo.
Vale mesmo a pema lê-lo.

A última tentação de Cristo - Nikos Kazantzakis

Este livro está carregado de duas coisas que inundam a Bíblia: poesia e alegoria.
Talvez por isso mesmo, por este misturar de naturezas, tenha sido tão mal recebido pela Igreja Católica.
Não se trata de um livro histórico, nem pretende sê-lo e qualquer coincidência entre as persoagens que o habitam e as homónimas da Bíblia é mera coincidência: o seu valor é meramente simbólico.
Sendo tudo isto verdade, parece que ir buscar a história de Cristo é um abuso. Parece ter sido esse o entendimento da Igreja. Mas não. O livro é, do início ao fim, uma reflexão profunda, uma interpretação honesta da história de Cristo. Com honesta não quero dizer correcta, isso é outro assunto. Mas parece-me que o livro - e o filme - não merecia uma resposta tão primária.
Vejo no livro, como antes já tinha visto no filme, a mão de alguém que se procura aproximar de Cristo, entendê-lo profundamente. Alguns pontos são muito curiosos: Jesus fugindo a sete pés do seu destino. As figuras de Pedro, de Paulo, a propriamente dita última tentação, são bons motivos para fazer esta leitura.
Muito obrigado, Anamae!