2007/11/30

O Pequeno Ditador - Javier Urra e A criança e a Disciplina - Brazelton e Sparrow

Já tinha ouvido falar muito bem deste autor e deste livro. É escrito por um psicólogo, sobre crianças e adolescentes malcriados, e porque malcriados, ditadores.
O livro levanta problemas graves. Tão graves que o autor qualifica este tipo de deseducação como maus tratos infantis. E penso que faz bem. Aliás, o autor indica várias situações em que esta deseducação deriva em violência.
Porém, não foi um livro de que eu tivesse gostado ou que tivesse lido com prazer ou proveito. O texto é disperso, confuso, repetitivo. Tenho a sensação - mas claro que posso estar enganado - que o autor terá escrito artigos ou crónicas de jornal sobre estes temas e que foi dessa amálgama, revista e alterada certamente, aumentada talvez, que retirou as extensíssimas 400 páginas com que nos brinda.
Mas o problema principal é que o autor não tem muito para dizer, ou, se tem, diz pouco. Identifica o problema, dá algumas coordenadas genéricas, mas nunca por nunca desce ao concreto, à vida de todos os dias. Indica problemas mas não os resolve. Diz que é preciso por limites mas não exemplifica como é que isso se faz. Se o cavalo vai com o freio nos dentes, serve de bem pouco dizer para puxar as rédeas.
Ficamos com a noção de um livro cheio de moralismos, de preconceitos subreptícios, de ideias politicamente correctas, mas muito, muito pouco prático na sua abordagem, o que não deixa de ser estranho (ou talvez não) tendo em conta o currículo do autor. Nunca me canso de verificar como são perigosos os preconceitos politicamente correctos.
Não posso deixar de fazer a comparação com outro livro, também sobre disciplina, muitíssimo mais modesto, com cerca de um quarto do tamanho deste, e que aborda também o assunto da disciplina de uma forma rigorosa, interessante e, sobretudo, prática. O livro A criança e a Disciplina de Berry Brazelton e Joshua Sparrow, com as devidas diferenças - este destina-se a uma intervenção mais precoce - contrasta claramente com o Pequeno Ditador. É uma importante ajuda para pais e futuros pais, na maravilhosa tarefa de educar os filhos. Longe de dizer o que é que os pais andam a fazer mal, Brazelton e Sparrow vão bem mais longe e explicam o que fazer e como fazer. Os meus parabéns obrigados a estes dois autores.

2007/11/29

A Ilustre Casa de Ramires - Eça de Queiroz

Há autores ímpares. Este é um deles. Tem uma ironia subtil embora seja sério naquilo que escreve. Tem uma escrita muito fresca embora faça, por vezes grandes descrições - que são, paradoxalmente, um importante contributo do narrador para a acção. É um clássico de uma actualidade impressionante. Cada vez que leio um livro do Eça pergunto-me sempre como é possível que tenha deixado passar tantos anos sem ler este livro. Adorei ler a Ilustre Casa de Ramires. Como sempre, fiquei motivado para ler mais e mais Eça.

Diário Escríptico

A ideia partiu do meu irmão: quer um texto por dia. Não importa o tamanho o tema é livre e à falta de tema que conte o dia da personagem que entender.

Muito bem. Vamos a isso. É já a seguir, num blog aqui ao lado.

Uma citação atribuída ao Einstein

If you want your children to be intelligent, read them fairy tales. If you want them to be more intelligent, read them more fairy tales.

(obrigado SoniaCarvalho)

2007/11/07

Cemitério de Pianos

Tinha uma espectativa bastante elevada quando comprei este livro, afinal sou fâ incondicional da poesia de Peixoto e, embora algumas das suas crónicas no JL me deixem uma pontinha de desilusão, estava muito curiosa em relação a este tão publicitado livro.


Francisco Lázaro (personagem inspirado no primeiro português a correr a maratona Olímpica em Estocolmo no ano de 1912, que morreu de insolação ao fim dos primeiros 30 quilómetros), é o centro deste romance, tudo o resto gira elípticamente em redor desta família em sequências alternadas e muito ritmadas.

O livro começa com uma atmosfera pesadíssima, diria mesmo macabra que, embora se vá diluindo, se respira em toda a leitura. Esta sabor azedo é-nos dado por esta família que nos vai revelando catátrofe atrás de catástrofe o alcoolismo, a traição, a violência doméstica, o ciúme, a tristeza, a insegurança, as carências afectivas e a morte, sempre a morte.

Apesar de tudo não posso dizer que não gostei do livro. Gostei muito de algumas ideias como a neta que conversa com o narrador, seu avô falecido, embora me pareça que não passa disso mesmo, uma ideia engraçada mas que se mostra infrutífera no desenrolar do livro. Há também um certo optimismo, apesar de tudo, na renovação expressada na metáfora do título, e nos próprios pianos "mortos" que guardam peças que renovarão outros e na forma cadenciada com que a família se renova. E claro, o ritmo dado pela forma alternada (em alguns momentos quase Lobo Antuniesca) com que avô e neto nos são revelados, levando mesmo em algumas alturas à confusão entre os vários tempos e espaços.

Feitas as contas não gostei muito. As expectativas eram demasiado altas? A atmosfera é demasiado negra para mim? O livro é mesmo um flop?

Deixarei no ar para quem quiser responder.

Continuem em boa companhia!

Desafio da página 161

Então, respondendo ao desafio, aqui está a minha contribuição:

"You'r that sort", he said confidently.

Na verdade nem era preciso ele dizer, eu já desconfiava! ; )

Só falta agora lançar o desafio a mais cinco leitores que nos façam boa companhia...