2005/11/23

Nenhum Olhar - José Luís Peixoto

Uma escrita finamente urdida, escolhida palavra a palavra. As imagens são impressivas, nem sempre bonitas, nem sempre alegres, mas sempre fortes. Isto é o que podemos dizer de bom sobre o livro. Tudo o resto é a história de uma oportunidade perdida: personagens que se perdem em embrião, uma péssima utilização de diferentes narradores, cuja identidade nos é dada pela sua posição na história e não por uma diferente forma de expressão.

Uma escrita triste, uma história triste, uma opção pela tristeza, falando sempre do que corre mal mais do que do que corre bem, enfatizando os problemas, os dramas, a tristeza. É um livro deprimido.

A capa é muito bem escolhida (dá gosto passear um livro com uma capa tão bonita) e curiosamente a escrita de JLP tem afinidades claras com a pintura de Paula Rego no que ambas têm de cuidado, de força e de tristeza, de uma tristeza intencional, irremível, irreal.

Não, não gostei, sobretudo porque podia ter gostado muito.

2005/11/14

Memorias de Mis Putas Tristes

Sinceramente, não gostei. Não gostei do tema, não gostei do branqueamento de comportamentos pedófilos, não gostei da escrita, não gostei das personagens, não gostei da história (será que a tem?)
Ficamos sempre à espera de um momento de rasgo, de uma centelha de génio. Nada. Começo a duvidar que o Cem Anos de Solidão tenha sido escrito por Garcia Marquez.

2005/10/31


Verão Perigoso

Desde criança que gosto de tourada e talvez por essa razão Verão Perigoso tenha sido o primeiro livro de Ernest Hemingway que eu li. Um bom ensaio, em que Hemingway descreve a Espanha da década de 50 e em particular as touradas. A razão de ser deste livro explica-se pelo convite feito pela conceituada revista Life para Hemingway fazer a cobertura do confronto entre António Ordóñes e Luís Miguel Dominguin, dois dos maiores toureiros de todos os tempos, que se iriam defrontar no Verão de 53. Um pequeno aparte para referir que este foi o derradeiro livro de Hemingway.
A forma como está escrito, com excelentes descrições, como convém a qualquer ensaio, faz com que o leitor possa “sentir” a Espanha de 50 e o fervor que Hemingway sentia pelas touradas. Para quem gosta de tourada ou para quem gosta do ambiente mediterrânico, dois factores pelos quais eu sinto um encanto muito particular, este é certamente um livro a não perder.

De Profundis, Valsa Lenta

Ensaio publicado em 1997, De Profundis, Valsa Lenta é um livro muito particular escrito por José Cardoso Pires. Muito particular porque foi escrito depois de José Cardoso Pires ter recuperado de um acidente vascular cerebral. Talvez a única obra, é definitivamente a única que eu li, em que a pessoa que sobreviveu a um AVC decidiu escrever sobre esta experiência que deve ser certamente angustiante e dolorosa. Desde que li este livro que o considerei como um dos melhores ensaios que já li, tanto pela forma como está escrito, de uma forma sóbria que demonstra que o génio de José Cardoso Pires não saiu afectado, como pelo tema em questão e a vontade de descrever algo a que poucos sobrevivem. Mas para além do que eu posso dizer deste livro, penso que os dois prémios que a obra recebeu, o “Prémio D. Dinis” e o “ Prémio da Critica” atribuído pela Associação Internacional de Críticos Literários, demonstram a qualidade deste livro.

2005/10/10

Bookcrossing

A ideia do bookcrossing é a partilha dos nossos livros e de experiências sobre os livros. Como é que isto se faz é demasiado longo para explicar mas para quem gosta de livros (e se não gosta está no blog errado) fica esta indicação. Boas leituras!

Já agora fica a indicação de um site explicativo em português

Fantasia para dois coronéis e uma piscina - Mário de Carvalho

Livro verdadeiramente delicioso, com um humor subtilíssimo. As personagens são fabulosamente construídas e as situações muitíssimo bem narradas. Pequeninos pedaços das nossas realidades e das nossas histórias. Só para dar um exemplo: casar um dos capitães de Abril com uma latifundiária alentejana é muito mais do que verosímil: é um retrato de época.

Vale muito a pena.

2005/09/10

Fernão Capelo Gaivota


“… tu tens a liberdade de ser tu próprio, o teu verdadeiro eu, aqui e agora; nada se pode interpor no teu caminho…”

Um pequeno grande livro é o mínimo que se pode dizer de “Fernão Capelo Gaivota” de Richard Bach. É a história de uma gaivota que decidiu aprender a voar, não se limitando a viver para comer, mas a voar para alargar o seu conhecimento. Excluída por ser considerada diferente e por ir contra as regras estabelecidas, Fernão Capelo Gaivota viaja e alarga os seus horizontes. Um dia percebe que mais gaivotas gostavam de aprender a voar e por isso ensina-as os segredos do voo, até que consegue fazer com que todas aprendam e que continuem a evoluir.
O voo que Fernão Capelo Gaivota queria é o inconformismo com as regras pré estabelecidas que nos limitam o conhecimento e a vontade de querer saber sempre mais, algo natural em todos os Homens, mas que devido a várias barreiras em que a principal é o auto-conformismo, acabam por matar essa condição natural. Este pequeno conto de Richard Bach tem a intenção de fazer perceber as pessoas que este conformismo não é natural e que deve ser abandonado. Os Homens devem usar as "asas" que Deus lhes deu para voar, voar até onde a imaginação alcança, até ao infinito!

2005/09/01

Baudolino

Baudolino é mais um magnifico livro de Umberto Eco. Um livro como outros deste autor, em que as descrições sobre a vida real da Idade Média são simplesmente brilhantes. Onde os acontecimentos reais estão presentes ao lado da fantasia.
O fio condutor deste livro é a história e as aventuras de Baudolino, um plebeu com uma imaginação prodigiosa, nascido na Franscheta, e que por ironia irá integrar a corte do Sacro-Império como filho adoptivo do Imperador Frederico, o Barba Roxa.
Durante as aventuras de Baudolino e os seus amigos podemos contemplar a História real das lutas entre Frederico e o Papa, as cruzadas, a tomada de Constantinopla e etc…. Podemos também saborear as mitologias da época que culminam com a busca do Reino do Prestes João.
Um livro que qualquer pessoa que goste da Idade Media ou simplesmente de uma boa história deve ler.

2005/08/18

Da Carta de Taizé 2005 III

"No Evangelho, podemos descobrir esta realidade surpreendente: Deus não provoca nem medo nem inquietação, Deus só pode amar-nos.

Pela presença do seu Espírito Santo, Deus vem transfigurar os nossos corações.

E através de uma oração muito simples, podemos pressentir que nunca estamos sós: o Espírito Santo é em nós o amparo de uma comunhão com Deus, não apenas por um instante, mas até à vida que não tem fim."

Irmão Roger de Taizé

Da Carta de Taizé 2005 II

"É verdade que ao longo da história, os cristãos conheceram múltiplos abalos: surgiram separações entre os que, afinal, se referiam ao mesmo Deus de amor.

Restabelecer a comunhão é hoje urgente, não se pode adiar permanentemente até ao fim dos tempos.15 Será que fazemos tudo para que os cristãos despertem para o espírito de comunhão?16

Há cristãos que, sem mais demoras, vivem já em comunhão uns com os outros onde quer que estejam, muito humildemente, de forma muito simples.17

Através da sua própria vida, desejam tornar Cristo presente a muitos outros. Sabem que a Igreja não existe para ela própria mas para o mundo, para depositar nele um fermento de paz."

Irmão Roger de Taizé

Da Carta de Taizé 2005 I

"Vivemos num período em que muitos se interrogam: o que é a fé? A fé é uma confiança muito simples em Deus, um indispensável impulso de confiança, permanentemente retomado ao longo da vida.
Em cada um de nós, pode haver dúvidas. Elas não têm nada de inquietante. Queremos sobretudo ouvir Cristo murmurar nos nossos corações: «Tens hesitações? Não te inquietes, pois o Espírito Santo permanece em ti.»
Há quem tenha feito esta descoberta surpreendente: o amor de Deus pode também desabrochar num coração marcado pela dúvida."

Irmão Roger de Taizé

2005/08/16

Irmão Roger de Taizé


Não são só os responsáveis dos povos que constroem o
futuro.O mais humilde dos humildes pode contribuir para a
construção de um futuro de paz e de confiança.
Por muito poucos meios que tenhamos, Deus concede-
nos levar reconciliação aonde há oposições e esperança
aonde há inquietação. Convida-nos a tornarmos acessível,
através da nossa vida, a sua própria compaixão pelo ser
humano.
Se houver jovens que se tornem, através da sua própria
vida, artesãos de paz, haverá luz à sua volta.

Irmão Roger de Taizé, da Carta de Taizé 2004

Por ocasião da sua morte, recordo a confiança e a paz do seu sorriso, a força da sua oração, a simpatia da sua presença.

Para conhecer a Comunidade de Taizé

2005/08/14

Recordar Aljubarrota

"Olha: por seu conselho e ousadia
De Deus guiada só, e de santa estrela,
Só pode o que impossível parecia:
Vencer o povo ingente de Castela.
Vês, por indústria, esforço e valentia,
Outro estrago e vitória clara e bela,
Na gente, assim feroz como infinita,
Que entre o Tarteso e Goadiana habita?” (Os Lusíadas, Canto VIII)


Apenas para recordar o 14 de Agosto de 1385.

2005/08/11

Com a cabeça na Lua

Um site muito curioso, sobre o nosso satélite natural

Garfield

Entre o trabalho, a família e os amigos, Agosto não tem deixado muito tempo para letras.
Só fica tempo para as coisas instantâneas, como o Garfield, editado agora a acompanhar um jornal.

Fica uma tira, para abrir o apetite.

2005/08/02


“A Filha do Capitão”

Este é o título da última obra de José Rodrigues dos Santos. Um livro que nos conta o romance entre um Capitão do CEP e uma Belga. As descrições do percurso de cada uma destas personagens até ao seu encontro durante a Primeira Grande Guerra são excelentes. Durante a leitura torna-se evidente que o autor fez bastante trabalho de pesquisa, pois descrever a vida nas trincheiras não é fácil, tal como não é fácil descrever detalhadamente a vida rural de Portugal do séc. XIX.
Concluo dizendo apenas que este é um excelente livro que vale a pena ler.

António Manuel P. Silvério Guimarães

2005/08/01

Tanta mãos, a mesma Primavera

Este título pertence a um conjunto de poesia inédita (chamo-lhe assim porque os próprios editores reconhecem que não é uma colectânea de poemas nem uma antologia de autores) tão má, mas tão má que a torna caricatural. É verdade que os editores se despojam de pretensões mas o facto é que, para algumas editoras, a edição é já uma afirmação de pretensão. Significa uma escolha. Significa que aquele livro é suficientemente bom para receber a chancela daquela editora. Nada disto se passa na Oficina do Livro, que publica livros como se fossem revistas, para serem vendidos ao lado de revistas e para se consumirem como revistas. Aproveitam-se dois ou três poemas. Escolhi este, que me parece destoar completamente dos restantes, pela sua qualidade.


A sombra da mão

Rasguei tantos papéis
Tantos lumes
Só para o poema ser luz
E nele ver
A sombra da minha mão.

Izidro Alves

2005/07/29

Madre Teresa de Calcutá III - Aborto

"O mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente, segundo os cientistas e pesquisadores, para todos; existe riqueza mais que de sobra para todos. Só é questão de reparti-la bem, sem egoísmo. O aborto pode ser combatido mediante a adoção. Quem não quiser as crianças que vão nascer, que as dê a mim. Não rejeitarei uma só delas. Encontrarei uns pais para elas. Ninguém tem o direito de matar um ser humano que vai nascer: nem o pai, nem a mãe, nem o Estado, nem o médico. Ninguém. Nunca, jamais, em nenhum caso. Se todo o dinheiro que se gasta para matar fosse gasto em fazer que as pessoas vivessem, todos os seres humanos vivos e os que vêm ao mundo viveriam muito bem e muito felizes. Um país que permite o aborto é um país muito pobre, porque tem medo de uma criança, e o medo é sempre uma grande pobreza."

Renovo este voto, em meu nome e da minha família: Quem não quiser as crianças que vão nascer, que as dê a mim. Não rejeitarei uma só delas.

Madre Teresa de Calcutá II - Família

"Na família ama-se como Deus ama: é um amor de partilha. Na família experimenta-se a alegria de amar e de se amar uns aos outros. Na família experimenta-se a alegria de amar e de se amar uns aos outros. Na família deve-se aprender a rezar em conjunto. O fruto da oração é a fé, o fruto da fé é o amor, o fruto do amor é o serviço e o fruto do serviço é a paz."
Madre Teresa de Calcutá

2005/07/20

Madre Teresa de Calcutá

Estou a ler um livro que, mais que uma biografia, é uma recolha de apontamentos dispersos, pensamentos, orações da Madre Teresa. Muito interessante, fácil de ler, nada aborrecido.
Recomendo vivamente.

Quem mexeu no meu queijo? - Dr. Spencer Jonhson

Resisiti durante muito tempo a esta livro. Odeio, por norma, livro que são vendidos como pipocas: normalmente enchem muito mas não alimentam.
Tenho que dar o braço a torcer. O livro é simples e prático, e acredito que pode ajudar a olhar para a vida de outra maneira. Não contém verdades absolutas, não vai revolucionar nada, levá-lo ao extremo seria obviamente um exagero, mas pode ser uma boa ajuda para rever a nossa vida e as nossas atitudes.
Vale a pena ler.

2005/07/06

Pouco tempo para letras.

Apesar dos dias maiores, muitas coisas para fazer, o dia termina lentamente mas falta sempre mais uma hora. Tenho lido a colecção do Público "Os Poemas da Minha Vida" embora me concentre não tenha interesse em todas as personalidades convidadas a publicar a sua antologia. Não deixa de ser curioso ver até que ponto determinados poemas se adaptam a cada um dos percursos e carácteres em causa.
Além disto, um livro de pequeno contos, para preparar o sono "A árvore dos tesouros", uma recolha de lendas e contos do mundo inteiro. Alguns são interessantes, outros nem por isso.
Li entretanto o "Outono do Patriarca", do Gabriel Garcia Marquez, pequena novela da qual não gostei. Das várias coisas que li dele apenas sobressai um livro, sendo que esse é monumental. Falo, naturalmente, dos "Cem anos de Solidão".

2005/06/14

O ponto final de Eugénio de Andrade

Amanhã será dia de luto nacional pelo enterro de um político. Hoje é o enterro de um grande poeta português. Foi decretado dia de cinzento nacional.

Ficam as amoras, o fruto mais bravio, que não pede licença à terra.

As Amoras

O meu país sabe às amoras bravas

no verão.

Ninguém ignora que não é grande,

nem inteligente, nem elegante o meu país,

mas tem esta voz doce

de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez

nem goste dele, mas quando um amigo

me traz amoras bravas

os seus muros parecem-me brancos,

reparo que também no meu país o céu é azul

Eugénio de Andrade