2006/08/16

António no outro lado do mundo - Malachy Doyle

É um livro engraçado, com umas excelentes ilustrações. A história não tem o mesmo nível das ilustrações mas apenas porque estas últimas são deslumbrantes.

Terapia do Amor Conjugal - Valerio Albiseti

O livro está preparado como uma reflexão e ao mesmo tempo um programa terapeutico sobre o casamento. Gostei de o ler, e penso que é muito útil para ser lido por casais que estejam a passar fases difíceis.
Este não é um qualquer livro de auto-ajuda, assente em vulgaridades e vacuidades. Com um discurso muito centrado na experiência do autor na terapia de inúmeros casais, as suas propostas não só fazem sentido como parecem ir ao essencial de uma forma muito acutilante: o desenvolvimento de competências de comunicação no casal, o valor da verdade, o crescimento comum, são pontos marcantes deste livro que podem ajudar a limar arestas e a construir melhores relações.

Vendidas - Zana Muhsen

Este livro é muito interessante, nas questões que coloca. É uma narração na primeira pessoa, da história de duas irmãs que vão parar ao Iemen.
Mais do que a brutalidade da ideia de alguém vender as próprias filhas, coloca-se aqui um problema de direitos humanos e de liberdade.
Uma visão superficial das relações entre civiliações pode levar-nos a partir do princípio que haverá entendimento mínimo em relação a determinadas matérias, que parecem adquiridas: direitos do Homem, igualdade entre sexos, liberdade.
O problema é que claramente não é assim. Será que estes valores - que nos parecem essenciais - não são superiores à "civilização" ou "maneira de viver" de um regime que não os respeite?
Que formas de pressão podem ser utilizadas nesse sentido?

Pensamentos Secretos - David Lodge

Os livros do David Lodge desenvolvem em mim uma verdadeira relação de amor-ódio.

Por um lado eu gosto imenso da sua forma de escrever:
- é um escritor informado (nota-se que os livros dele passam por uma pesquisa e uma reflexão profundas)o que vai sendo pouco habitual na maior parte dos livros e autores que para aí andam;

- é um escritor versátil quanto à forma (escreve através de diálogos, cartas, diários, guiões, narrações na terceira pessoa, etc), o que dá novas dimensões aos seus livros, na medida em que apresenta "diferentes lados" da história, vistos das perspectivas de outras tantas personagens;

- é um escritor cheio de humor, de um humor mordaz, difícil por vezes, por vezes amargo, irónico. Não são muitos os escritores sérios que sabem rir-se de si e das suas personagens. David Lodge é, a este nível um excelente cómico!

Por outro lado, parece-me que a sua visão do mundo, da religião, da sexualidade, pretendendo mostrar-se madura , é, na realidade, simplesmente distorcida. Todas as relações monogâmicas tendem a "evoluir" para o adultério, todos os crentes são velhos ou se o não são andam com dúvidas e se não andam com dúvidas é porque ainda não leu o suficiente. É um universo de relações muito áridas, muito superficiais e, ao mesmo tempo, muito insatisfeito. Não há personagens felizes nos livros do David Lodge.

Porque será?

2006/08/11

To Kill a Mockingbird - Harper Lee

Estava um pouco apreensivo, quanto ao meu inglês (e sobretudo quanto ao meu americano!) mas surpreendentemente o livro tornou-se claro como água! As primeiras páginas talvez tenham sido um pouco mais lentas, mas depois, quando embalei não conseguia despegar.

Foi um livro que gostei imenso de ler. É daqueles que entrará para a minha lista de favoritos sem a menor dúvida. Daqueles que gostava de ser lembrado por recomendar aos meus filhos.

Há três registos distintos que gostei particularmente no livro.

A crónica de costumes, onde ressalta a questão do racismo, parece uma realidade tão distante e tão antiga que quando às tantas há uma referência ao Einstein senti aquilo como um anacronismo. Depois realizei que não, não havia qualquer anacronismo: era no sec. XX que a acção se passava.

A infância e a forma como a narradora escreve desde uma mentalidade infantil. Está muitíssimo bem escrito, sob este ponto de vista. São poucos os escritores que o conseguem fazer bem. Assim de repente só me ocorre o José Mauro de Vasconcelos!

E finalmente, aquela figura parental. Impressionante a forma como educa e como se relaciona. Este tema é-me muito caro, hoje em dia, e o Atticus é uma personagem - tenta-me escrever uma personalidade - muito completa.

Gostei muito de ler este livro, Conto, mais uma vez muito obrigado.

Livro da Treta - Filipe Homem Fonseca; Eduardo Madeira; Rui Cardoso Martins

É verdade que estas não são as personagens que eu mais gosto dos actores que as encarnam - o António Feio e o José Pedro Gomes. Mas isto diz mais da qualidade destes actores que fizeram outra personagens ainda melhores - veja-se o Arte, o Último a Rir, o Jantar de Idiotas - do que propriamente deste livro. Aliás é do livro, e não das peças que eu estava a falar, não era? Mas na realidade são indissociáveis: uma pessoa lê os diálogos como se estivesse a ouvir estes dois actores.

O livro é óptimo, verdadeiramente hilariante. Altamente desaconselhado para ler em sítios públicos. Dei por mim várias vezes a não conseguir conter o riso. O que vale é que não me importo: rir é bom.

O regresso do Menino Nicolau - Sempé/Goscinny

Aqui está um livro que eu adorei. Não traz novidades, é um facto: o menino Nicolau continua igual a si próprio tal como os seus colegas de escola. Mas é exactamente assim que eu gosto deles! Foi delicioso, voltar a estas peripécias, das crianças e dos adultos! É que muitas vezes os motivos de confusão não estão nas crianças mas nos professores e encarregados ou mesmo nos pais. Neste contexto, há verdadeiras pérolas neste livro.

Fico ansioso pelo nº 2 - Eu sou o maior - que já tenho lá em casa. Estou só a espaçá-los um bocadinho - para durar mais!

Optimismo - Francesco Alberoni

Eu esperava uma monografia sobre o optimismo, saiu-me uma colecção de crónicas "morais" (?). Eu esperava uma reflexão profunda e cuidada, saiu-me um conjunto de lugares comuns que exploram assuntos tão interessantes como saber se as nossas impressões à primeira visata estão ou não correctas... para chegar à conclusão que às vezes sim, às vezes não. Os exemplos, as inferências são de uma displicência que me fazem colocar em causa não apenas o texto mas o próprio autor. Quem pensa assim neste livro, como pode ter modelos de pensamento rigorosos e racionais noutros livros?
Ao mesmo tempo tenho que dizer que os textos são assim uma mistura de calda de açucar com canja de galinha que não chega propriamente a merecer discordância. Ninguém discorda de um discurso vago, assente no senso comum. Mas para quê lê-lo? Se o livro fosse maior, tinha focado a meio. Tem essa qualidade: é pequeno.
Sinceramente, não gostei do livro e foi para mim uma enorme desilusão porque já ouvi bons comentários sobre outros livros dele, que ainda não me dei ao trabalho de ler. Mas depois deste fiquei sem muita vontade...

Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma - Irene Lisboa

Este foi daqueles livros de que sempre fui ouvindo falar, mas que nunca tinha lido. Sinceramente, não gostei. Talvez seja um documento interessante, enquanto testemunho de uma particular forma de vida, de uma mentalidade do início do século passado. Mas como livro, não me entusiasmou. Fica o título, de que gosto imenso, os contos deixaram-me esta mesma sensação: "Uma mão cheia de nada... "

O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo - Germano Almeida

Gostei da escrita escorreita do Germano de Almeida - que não conhecia. O livro é engraçado, as personagens curiosas. O final é que não me parece particularmente conseguido: o livro morre de causa natural, sem que nada se desenlace, como se tivesse acabado o papel. É pena. Mas é uma leitura agradável, sem dúvida! Fiquei com vontade de ler outros livros do mesmo autor.

2006/08/08

A Misteriosa Chama da Rainha Loana - Umberto Eco

O tema deste livro é a história de Yamo, um homem que acorda após um AVC. Quando recupera lembra-se de tudo sobre história, literatura, cinema, música, pois toda a memória semântica de Yamo está perfeita. O único problema é que não se lembra de si próprio, ou da sua família, amigos e colegas, em suma, não se lembra da sua própria história. Encorajado por sua mulher, parte ao encontro da sua vida para a casa dos seus avós, onde não voltava desde a morte dos seus país e avô. Ai no meio de brinquedos, livros de banda desenhada e discos de vinil de 78 rotações tenta reencontrar-se. Uma sucessão de acontecimentos levam Yamo a uma recaída e sofre outro AVC, mas desta vez mais forte. É durante o seu coma que se recorda de tudo e volta a reencontrar-se com a sua história, levando-nos a viver as aventuras da sua infância e a história do período da queda de Mussolini. Fazendo no meio de tudo isto, o leitor sentir um pouco da cultura dos meados da década de 40.
Eu já sabia que Umberto Eco é um dos poucos que pinta com as palavras! E esta obra é bom exemplo disso mesmo, pois as imagens que nos são descritas nada devem às gravuras do livro. Penso até que a presença das gravuras servem para reafirmar a genialidade e superioridade da escrita de Umberto Eco. De referir, que ao contrário de outros livro de Umberto Eco que eu li, este é aquele que tem a escrita menos densa, sendo portanto de mais fácil leitura.