2006/01/16

Terapia - David Lodge

Há várias razões pelas quais os livros me interessam: uma boa história, uma boa escrita, boa pesquisa histórica, boa mensagem.

Em David Lodge há uma razão fundamental pela qual eu o leio: o excelente humor, inteligente, tenso, denso, profundo com que ele escreve.

Além disto os livros dele juntam algo que vai sendo cada vez mais extraordinário nos tempos que correm: uma excelente cultura, com particular referência à literatura inglesa.

Neste livro ele demonstra um pouco de tudo isto. E muito mais.

O início do livro é de tal forma enfadonho (embora divertido) que estive quase a deixá-lo a meio. Precisamente no momento em que me preparava para dizer "não aguento mais" o livro faz uma enorme viragem (no final da primeira parte) e eu percebo finalmente um artifício, uma figura de estilo que até hoje desconhecia na literatura: a de escrever de tal forma que se induza no leitor o estado de alma que permita compreender o enredo.

Daí por diante o livro ganha asas: tudo o que se passa de seguida é alucinantemente interessante, e vários dias atrasámo o pequeno-almoço até aos limites do razoável para poder terminá-lo.

Brilhante.

2006/01/11

A Desgraça - J.M. Coetzee

Todos os desiquilíbrios n'A Desgraça são contidos. Tudo na sua proporção, peso e medida para não ficar grotesco ou lamechas. E no entanto mantém sempre o mesmo tom ácido, desafiante, rufia (ia dizer: que caracteriza a personagem principal, mas não é verdade - caracteriza todas as personagens, todo o livro).

Lê-se de uma penada, com gosto, com vontade de chegar ao fim. Mas o fim tem precisamente este toque ácido que acompanha todo o livro. Não se sente que desenvolva. Como se David fosse o único ponto estático.

É um livro estranho: queria que não fosse assim, mas percebo que este era, talvez o único caminho que não o desvirtuasse, que não traísse David na sua miséria autoinfligida.

A temática do morto/matado é, sem dúvida, central a este texto.

Talvez fizesse sentido falar também de castigo-perdão-misericórdia. Os castigos autoinflingidos. A forma como o perdão permite seguir em frente apesar das desgraças, construir sobre os escombros. Não falo da misericórdia. Desvendaria demasiado para quem não tenha lido. Digo só que me parece uma palavra chave deste livro, posta em sistema com as outras duas.

Ficou aquém do que eu esperava quanto ao retrato da África do Sul. Foi muto além como escritor. Que força nas personagens!

Excelente livro.

2006/01/04

A arte da guerra - Sun Tzu

Li em e-book e em inglês, sistema MReader. Gostei do sistema, porque permite ouvir o livro e acompanhá-lo no texto. Isto torna a leitura mais rápida, embora se aplique sobretudo a livros não literários, já que nos outros há que ter em atenção as pausas, as entoações, que a voz monocórdica do MR não permite. Gostei deste sistema, para livros técnicos.
A arte da guerra é um livro interessante. O problema é tentar-se extrapolar dele demasiado. É um livro de instrução militar. Qualquer extrapolação é mera coincidência ou, em alguns casos, a afloração de uma regra de prudência mais lata.
Faz lembrar o Príncipe do Maquiavel.

"Viena" e "Amsterdão" - Guias American Express

A propósito da viagem a Viena e Amsterdão duas excelentes referências no apoio a essa viagem. Os guias da AE são, como sempre, óptimos. Sobretudo quando se vai com poucos dias, eles permitem-nos dividir as cidades em partes, planear cada dia e aproveitar ao máximo os pormenores.
Porém, pela primeira vez notei algumas falhas: edifícios interessantes que não estão assinalados, percursos de eléctrico que não estão descritos e deviam estar. Estes guias (em particular o de Viena) merecia ser revisto.

A árvore dos tesouros - Henri Gougaud

Livro de contos de todo o mundo. A recolha é interessante e a leitura é fácil. Fica por fazer a leitura global da obra ou dos critérios que a ela presidiram: procurou-se a unidade dos temas? a sua diversidade? a representação de uma (de cada) particular visão do mundo?
A julgar pelas zonas do globo que conheço melhor, nada disto. E nada mais. Por isso, é um punhado de gãos de areia por sedimentar: não fazem uma praia, porque são apenas uma ínfima parte da praia, não fazem uma pedra por não terem unidade. E depois do vento da memória, o que fica?

História Secreta de uma Novela - Mário Vargas Llosa (BM)

Trata-se de uma pequena comunicação, revista para publicação, onde o autor descreve as imagens chave da sua novela A Casa Verde. O interesse é obviamente maior para aqueles que leram aquela novela (como é o meu caso) e de preferência que a leram há pouco tempo e por isso têm um memória freca das suas impressões (o que não é o meu caso).
Leitura muito agradável (e curta).