2008/04/06

A Praia - Alex Garland

Demorei mais tempo a acabar este livro do que aquele que à partida seria necessário, mas isso deveu-se ao facto de me ter deixado levar calmamente pela escrita deste Alex Garland. Convenhamos: esta não é uma grande obra-prima literária (nem pouco mais ou menos), mas está escrita de tal forma que nos deixa agarrados desde a primeira frase até à última, muito graças à quantidade incrível de acontecimentos. Por estas razões, não é de estranhar que passado tão pouco tempo após a publicação deste livro, ele tenha sido adaptado ao cinema. E percebe-se perfeitamente que foi escrito no início da década de 90, graças às referências a filmes e especialmente aos jogos de vídeo: quem não se lembra de jogar o Street Fighter, o Super Mario ou o Sonic? Além disso, é ali abordado um tema que começou a tornar-se pertinente naquela altura e que hoje sentimos cada vez mais na pele, que é o do turismo de massa (a este propósito, as observações de Richard no que respeita a ser um viajante são também muito interessantes e dignas de nota).

Infelizmente já vi o filme protagonizado pelo Leonardo DiCaprio mais de uma vez, por isso esta leitura foi sempre um bocado contaminada pelas imagens e pelo que eu já sabia que ia acontecer. No entanto, foi sempre deixado espaço à surpresa, na medida em que nem tudo foi mantido igual na transposição para o grande ecrã. Além disso, consegui perfeitamente dissociar a imagem do Leonardo ao Richard! Preferi muito mais o Richard britânico e moreno do que o americano loiro e de olhos azuis. Em todo o caso, e acho que isto só acontece porque já tinha visto o filme antes de ler o livro - caso contrário seria um feroz crítico de tamanhas liberdades - não acho que as alterações tenham desvirtuado muito a história. Bem, talvez exceptue desta observação os apontamentos românticos e sexuais que não existem na versão literária, o que não deixa de mostrar que o filme foi feito mais a pensar em encher o olho aos adolescentes com as hormonas aos saltos do que propriamente para bem da Sétima Arte.

Julgo que este livro não deva ser incluído junto daqueles que tratam sobre a intrínseca maldade humana (tal como O Deus das Moscas), como me fizeram crer quando mo aconselharam. No entanto, não deixa de surpreender um pouco a violência dos capítulos finais. A única personagem com quem simpatizei verdadeiramente foi Étienne, o mais sensato do grupo. Todos os outros me pareceram excêntricos (Unhygienix), calculistas (Sal), desinteressantes (Keaty), loucos (Richard). Estranho é também a associação que Alex Garland faz entre a Praia e a Guerra do Vietname, fazendo surgir do nada (ou melhor, da loucura de Richard) a personagem Daffy. Sinceramente, acho que não cheguei a perceber muito bem essa associação...

Quanto à ideia de viver num sítio paradisíaco longe de tudo e de todos pode ser bastante apelativa, mas não sei se gostaria de passar pela experiência. Talvez por um curto espaço de tempo fosse interessante, mas poderia tornar-se rapidamente aborrecido. Além disso, como fica ali provado, o paraíso de facto não existe.

7 estrelas

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