2008/02/09

Sul - Viagens, Miguel Sousa Tavares

Ultimamente tenho andado numa fase em que pouca paciência tenho para as leituras. E, além disso, não sei bem porquê, mas ultimamente só tenho conseguido ler fora de casa (transportes públicos, bancos de jardins, cafés - desde que não sejam muito barulhentos - enfim, qualquer sítio que não seja em casa). Por essas razões, recomendaram-me que lesse livros de viagens. Numa das minhas idas à biblioteca vi lá este livro de MST e como já tinha ouvido falar dele, decidi trazê-lo comigo. Chegado ao fim da sua leitura, posso tirar as seguintes conclusões:

- Trata-se de um livro algo irregular, com diversos textos interessantíssimos e outros que não são nada de extraordinário. Por exemplo, o primeiro texto (o da Amazónia), não me conseguiu prender o interesse. De tal maneira que quase pensei em ler as restantes crónicas de viagens mais na diagonal, sem dar propriamente muita atenção ao que estaria ali escrito. No entanto, os capítulos seguintes foram a pouco e pouco conquistando o meu interesse e, embora tenham continuado a surgir banalidades de estilo jornalístico ao longo do livro, os textos tornaram-se mais entusiasmantes.
- Gostei bastante dos capítulos dedicados às antigas colónias portuguesas. Arrebatou-me o texto "Goa, o sonho impossível", assim como "Um rio há-de correr em Cabo Verde" e "São Tomé e Príncipe: as ilhas maltratadas". Ficou verdadeiramente a vontade de visitar aqueles lugares que parecem tão próximos, mas que estão tão distantes. "Alhambra: os jardins de Alá" também tem o seu interesse, já os textos relativos ao Brasil e à Costa do Marfim não me encantaram.
- A principal razão pela qual não terei gostado tanto deste livro talvez tenha sido porque encontramos aqui, na sua maioria (11 textos de 12) a repescagem de reportagens publicadas na revista Grande Reportagem nos anos 90 (dirigida na altura por ele próprio). Até que ponto se se justifica a edição de um livro propositadamente para as reunir, uma vez que, com o passar do tempo, tudo isto soará (já começa a soar) antigo (da mesma maneira que uma notícia de um jornal se torna antiga)?
- O texto mais bem conseguido é, na minha opinião, o último "A pista para Tamanrasset", verdadeira viagem, mais do que ao e pelo deserto, ao íntimo dele próprio. É neste texto que conseguimos sentir o verdadeiro espírito de aventura e sentimento de desapego total (aos bens materiais e aos bens humanos) que uma viagem implica. Um espírito de aventura que, mais do que nos levar ao nosso destino, nos leva ao interior de nós mesmos. A viagem que vale mesmo a pena realizar. A viagem que se tem vontade de repetir.

7 estrelas

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