2008/02/03

Equador, Miguel Sousa Tavares

Li o Equador do Miguel Sousa Tavares (a edição ilustrada com postais da época) há já algum tempo e, como foi um livro de que gostei bastante, decidi vir aqui deixar a minha humilde opinião sobre o referido livro.

No geral, gostei bastante. A princípio pensava que ia demorar imenso tempo a acabá-lo, mas até nem demorei assim tanto. Julgo que terá sido porque MST acaba por escrever de uma forma, se por um lado demasiado prolixa e, porventura, descabida (ex: "dotada de atributos que o vasto decote do seu berrante vestido verde abundantemente documentava"), por outro bastante vívida e interessante.

Quanto à personagem principal, é o típico herói bem-parecido, bon-vivant, um verdadeiro gentleman, com o qual não podemos deixar de sentir empatia. No entanto, isso limita demasiado o seu desenvolvimento enquanto personagem, porque a torna plana e entediantemente previsível.

Há ainda uma série de episódios ao longo do livro, os quais, embora ajudem a enquadrar a história, são demasiado longos ou surgem após momentos-chave da narrativa, tornando-a pesada e tirando-lhe ritmo (exemplo disso são as vicissitudes do cônsul britânico ou o julgamento dos serviçais fugidos). Além disso, certos episódios são um tanto ou quanto desnecessários (a visita nocturna ao quarto da proprietárias de uma das roças) ou então previsíveis (os excessos de Ann quando estamos quase a chegar ao fim da história). Mas verdade seja dita que, por outro lado, o acontecimento derradeiro é bastante surpreendente, embora após reflexão se chegue facilmente à conclusão de que a história não podia terminar de maneira diferente... Infelizmente...

Pontos positivos: o tema abordado (resquícios de escravatura na mais pequena colónia portuguesa em África) é mesmo muito bom. Portugal, ainda que "nação civilizadora" está ali representado de forma desencantada e pessimista, verdadeiro retrato do Portugal de inicíos do século XX(I?).
O que chateia um pouquinho no livro é somente o facto de MST querer passar-se, quase à força, por Eça, quando na realidade o mestre é difícil (senão impossível) de igualar.

Em suma: gostei do que li, se bem que fiquei com a pequena sensação de que poderia ter sido melhor. Em todo o caso, não me arrependo do tempo que dispensei a este livro.

8 estrelas (ou será 9? estou indeciso)

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