2007/01/03

O Estrangeiro - Albert Camus

É a história de Meursault, um homem que vive uma vida, que talvez não devesse ser contada. Pois ele vive vazio de emoções, incapaz de sentir amor, saudade, ódio, medo, ou qualquer outra emoção. A sua vida vai-se desenrolando como se ele fosse um estrangeiro, não em relação a um país, mas em relação à humanidade. No fim o crime que comete não o leva ao fim da sua vida, o que leva ao seu fim é a falta de qualquer emoção aquando da morte da sua mãe. Mostrando-nos Camus que tudo o que fazemos num determinado momento se reflecte durante o resto da nossa vida. Outro ponto curioso deste livro é que a sua história é suspensa, ou seja, nós não sabemos o passado de Meursault, a história começa este personagem a afirmar que “Hoje a mãe morreu”, e Camus, não nos dá nenhuma pista do passado de Meursault. O mesmo acontece com o fim, nós podemos supor o que se vai acontecer, apenas supor porque o autor deixa em aberto o que acontece a Meursault.
Um livro que sempre me despertou a atenção, mas que por ironia do destino nunca tive a oportunidade de ler. Bem, pelo menos até à 1 mês atrás, altura em que o encontrei à venda e não perdi a oportunidade.
A experiência não começou nada bem, por devido a uma grande dose de insensatez, o editor decidiu colocar um critica feita por Jean-Paul Sartre como introdução. Um grande erro, porque a critica de Sartre é aquilo que uma critica deve ser, contando partes do livro, dando-nos conta de sequência, dando-nos conta do que Sartre considera os pontos-chave, a sua interpretação e levando-nos a antever parte do final da obra. Ou seja, antes de ler o livro, eu já sabia o que ia acontecer. Assim à medida que eu ia lendo O Estrangeiro a minha única interrogação era quando é que isto ou aquilo ia acontecer. Enfim, uma grande falta de sensatez, que mata o grande prazer de ler um livro, que é o prazer da descoberta.
O livro em si é estranho em parte devido “àquilo” que Sartre caracteriza como “uma escrita cheia de silêncios”. È o primeiro livro do estudo do absurdo que irá acompanhar Camus durante grande parte da sua carreira.

3 comentários:

Trovador disse...

Curiosamente também li há muito pouco tempo este livro. Curiosamente, também tinha a crítica do Sartre no princípio.
Gostei mesmo muito do livro, não pela forma de escrever de Camus (embora no fim tenha reconhecido que o livro está muito bem escrito, mesmo com as frases tipo telegrama), mas porque me identifiquei profundamente com o Mersault.
Talvez um dos melhores livros que li nos últimos tempos e em toda a minha vida. A reler daqui a uns anos.

mmmim disse...

Eu também li, ou reli (tive um certo dejá-vu) o "Estrangeiro" há pouco tempo, mais precisamente, numa noite do fim de Novembro, quando, depois de uma conversa igualmente absurda que metia Camus pelo meio...
Achei, por isso, que me estavam a condenar à morte por, também eu, não me emocionar com nada e viver sem grandes ou, pelo menos, definidas ambições. Estavam de facto a condenar-me à morte. E houve de facto uma morte - de uma amizade, desencadeada por essa forte e absurda discussão. Foi triste.
Mas o livro é muito bom. Muito cinematográfico. E estou totalmente solidária com o Meursault! Danem-se!

mariadocostume@bookcrossing

mmmim disse...

ah! O meu exemplar não tinha essa crítica do Sartre! :P