2009/01/17

Uma Casa no Fim do Mundo - Michael Cunningham

Bem, devo dizer que ler este livro foi como um murro no estômago. Achei-o um bocadinho superior ao As Horas (livro do mesmo autor, bem mais famoso graças ao filme do mesmo nome e que valeu a Nicole Kidman o Óscar de melhor actriz em 2002), que também já tive oportunidade de ler, e que é, apesar de tudo, igualmente original.

A primeira parte desta livro foi a que realmente me surpreendeu pela forma como os acontecimentos são narrados... Se bem que na segunda parte continuam a ser abordados temas polémicos (SIDA, comportamentos sexuais promíscuos, o amor entre três pessoas, duas delas do mesmo sexo), julgo que não está tão bem arranjada como a primeira, o que torna o ritmo do livro um pouco mais lento, ainda que não necessariamente menos interessante.

No que respeita às personagens, Clare foi a que me pareceu menos verosímil, aquela que tinha uma identidade mais fictícia e sem a profundidade da personagem de Jonathan ou de Alice. Também Bobby acabou por me desiludir um pouco, pois estava à espera que fosse ele a personagem-chave da narrativa. No entanto, devo dizer que, se calhar, o mérito de Michael Cunningham está precisamente no facto de não haver uma personagem que se sobreponha às restantes e cada uma, à sua maneira, constrói uma história contada na primeira pessoa, mas em diferentes perspectivas, como a construção lenta de um puzzle. De facto, admiro qualquer autor que consegue a proeza de escrever um livro inteiro na primeira pessoa do singular, sendo que este Uma Casa no Fim do Mundo vai ainda mais longe com quatro eus a desenrolar o emaranhado novelo da(s) sua(s) vida(s).

Nota especial ainda para o facto da importância das músicas que vão sendo referidas ao longo do livro. É interessante ir confrontando a letra de cada uma com a parte da história em que está inserida para perceber que não foram ali postas ao acaso.

Sem dúvida que este Michael Cunningham foi uma agradável surpresa. Há já muito tempo que um autor americano não me surpreendia desta maneira (acho que o Dan Brown e companhia nos fazem esquecer que os EUA também têm bons escritores).

Por todas essas razões, acho que este é um livro bastante interessante e que vale a pena ler.

9 estrelas

4 comentários:

Pedro disse...

!

Estive quase para adquirir As Horas... Mas passou. Entretanto, a tua opinião deu-me nova motivação para pegar neste autor!

Trovador disse...

Como já tive oportunidade de dizer, considero Uma Casa no Fim do Mundo um bocadinho superior ao As Horas. No entanto, deste último livro, gostava apenas de dizer que é um engano pensar que se trata de uma leitura levezinha. Pelo contrário, é um pouco mais difícil de digerir e compreender do que aquilo que eu estava à espera. Gostei de ler, acho que vale a pena, mas dificilmente será um livro que me tenha marcado para a vida inteira.

De destacar, são os capítulos dedicados a Mrs Brown, mais do que os dedicados a Mrs Woolf e a Mrs Dalloway, por me parecer a personagem mais bem concebida (não sendo alheio a isso o facto de ser a mais reprimida e desesperada).

Acho que ao As Horas dou aí cerca de 7 estrelas...

Pedro disse...

Bem, de 7 para 9 estrelas... É muito!

SV disse...

Gosto muito deste autor. Já li este livro há bastante tempo e As Horas ainda há mais tempo, mas lembro-me que gostei. Muito.