2008/10/06

O Último Cabalista de Lisboa - Richard Zimler

Decidi iniciar com esta posta uma série de quatro apontamentos sobre um dos autores que tive o prazer de conhecer este ano: Richard Zimler. Uma amiga falou-me deste autor e, ao fazê-lo, deu-me a conhecer o facto de haver 4 livros que andavam à volta de diferentes ramos de uma família de judeus portugueses. Se curiosidade de ler os livros deste autor eu já tinha, esse foi o principal impulso para iniciar a "árdua" tarefa (mas muito agradável) de ler esses 4 livros de Richard Zimler. E mais do que ler, acho que os devorei! Para terem uma noção, acabei de ler O Último Cabalista de Lisboa no princípio de Agosto, dez (!) dias depois já tinha terminado o Goa ou o Guardião da Aurora e no segundo dia de Setembro já tinha despachado o Meia-Noite ou o Princípio do Mundo. A Sétima Porta acabei-a no princípio de Outubro.

Comecemos pelo princípio. Richard Zimler é um escritor norte-americano naturalizado português e radicado actualmente no Porto. Decidiu escrever sobre uma família de judeus portugueses. No entanto, não o fez de forma convencional. Imaginou vários ramos da família ao longo da História e, assim, escreveu a saga da família Zarco desde o início do século XVI até aos finais do século XX. Confusos?

A história da família Zarco começa com o livro O Último Cabalista de Lisboa, policial ambientado no século XVI que, para além de nos dar o mote para os restantes livros, relata de forma um pouco cruel (mas, por isso mesmo, realista), algo que tem sido afastado dos manuais de História: o massacre de judeus que ocorreu na capital portuguesa em 1506, incitado pelos dominicanos no Rossio. Foram mortos nesses dias de Páscoa cerca de 2000 judeus por serem os "culpados" da seca que grassava na cidade.

Esse é o ambiente, mas não o fulcral da narrativa. Berequias Zarco, jovem cristão-novo, descobre o seu tio assassinado no esconderijo da sua casa, em Alfama. Isso leva-o (a ele e a nós, felizmente, diria eu) a passear por uma Lisboa ainda agarrada à ignorância medieval numa busca incessante pelo assassino, enquanto os cristãos-velhos se vão entretendo a queimar judeus ou a decapitá-los.

O que é fantástico de ver neste relato é a capacidade incrível de um escritor norte-americano conseguir reconstruir a Lisboa da época e também os seus arrabaldes (Campolide, Benfica, Belém), mas também o facto de inventar uma história que, não sendo absolutamente verosímil, não deixa de ser interessante. É verdade que existem demasiadas personagens (o que pode confundir um pouco a leitura; a mim confundiu, pois por vezes eram resgatadas na narrativa personagens que tinham aparecido anteriormente, mas que eu já tinha esquecido), mas isso acaba por servir da melhor forma a história, tornando-a mais credível.

Este foi um dos meus livros preferidos da saga Zarco. Porque se passa em Lisboa, porque está magistralmente bem escrito (tudo na primeira pessoa, uma das formas de narrar mais difíceis de concretizar), porque agarra desde o princípio até ao fim, porque trata de um assunto sério nas entrelinhas, porque, apesar disso, consegue ter alguns momentos bastante humorísticos (veja-se o encontro de Berequias com o ferreiro de Benfica), enfim... porque sim. Gostei muito de ler este livro e, por isso, não posso deixar de recomendar a sua leitura.

9,5 estrelas

5 comentários:

Pedro disse...

!!!

A par com Orhan Pamuk, este é daqueles autores que quero desesperadamente começar a ler!

Trovador disse...

Pedro,
Richard Zimler lê-se muito bem. Recomendo que o faças. Eu, pelo menos, gosto bastante e não estou nada arrependido!

SV disse...

Influenciada pela tua crítica, comecei este livro ontem. Ainda nem cheguei ao fim do 1º capítulo. Vamos lá ver se faço bem em seguir os teus conselhos ;).

SV disse...

Gostei bastante deste livo, embora tenha sido difícil entrar na história e na História do povo judeu em Portugal na Idade Média. A viagem no tempo revelou-se, no entanto, gratificante.
Aspectos que mais apreciei:
- narrador é uma personagem muito bem construída, autêntica. Se, por um lado, nos mobiliza para a sua busca pelo assassino do tio; por outro, por vezes, leva-nos a pensar que a sua sede de vingança o pode trair, cegando-o
- mistério intrigante que, a pouco e pouco, se vai desvendando fazendo-nos querer avançar sempre mais
- final em aberto relativamente ao futuro e a preparação para um regresso a Lisboa
- Livro Terceiro que remata as pontas soltas e esclarece o desfecho da história de vida das personagens.
Resumindo, este livro primeiro estranha-se e depois entranha-se. Obrigada pela sugestão, Trovador!

Unknown disse...

como acaba o livro?