Li este livro de uma assentada, claro! Escusado será dizer que gostei bastante (conhecendo já uma grande parte do trabalho cinematográfico de Tim Burton, sou aquilo a que se pode chamar um praticamente-fã do realizador). É incrível como Tim Burton consegue criar estas histórias (e não estórias como vem na capa do livro - fica a nota feita) de inadaptados que no fundo não têm culpa nenhuma de o ser. Pior mesmo só o facto de serem a maior parte das vezes rejeitados pelos próprios pais e, no fim, por todos os que os rodeiam. Nenhuma das histórias termina com um final feliz. Não há qualquer tipo de redenção e acho que é isso mesmo que diferencia o Tim Burton de todos os outros. Trata os assuntos da morte e da dor tão prosaicamente como outro qualquer autor/realizador trataria o tema do amor. É a inversão quase total dos valores que estamos acostumados a aceitar como garantidos. Aqui não há amor, há o contrário do amor, há "desamor"... Nem os pais amam os seus filhos (num dos contos, chega-se mesmo ao absurdo máximo que é o próprio pai comer o filho para se curar de um problema de impotência), desajustados do mundo sem culpa alguma ("O Rapaz Robô", "A Morte Melancólica do Rapaz Ostra", "O Rapaz Múmia", "O Bebé Âncora") nem os inadaptados amam quem os ama a eles ("A Rapariga Lixo") ou, se os amam, é um amor impossível ("Palitinho e Fosforina Apaixonados", "A Rapariga Vodu"). E há os que são simplesmente inadaptados e vivem (e/ou morrem) sozinhos e tristes ("O Rapaz Nódoa", "A Rapariga que se Transformou numa Cama", "Roy, o Rapaz Pesticida", "A Rainha das Almofadas de Alfinetes", Cabeça de Melancia", "Crispim, o Hediondo Rapaz Pinguim", "O Rapaz Torresmo"). Estranho é igualmente o facto de algumas histórias serem ambientadas na época do Natal, precisamente aquela em que supostamente estamos mais sensíveis aos actos de caridade e amor.
Nota especial também para as ilustrações que ajudam a complementar os poemas (ou será que são os poemas que complementam as ilustrações?). Muito interessante este livro.
7 estrelas
2008/04/12
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2 comentários:
Hummm... Deixaste-me curioso. Nunca li nada do Burton mas já me tenho deparado com muitos livros dele que parecem chamar por mim. Tenho de ver se um dia destes leio qualquer coisa dele.
PS: Comentei o post sobre o Neverwhere ;-)
Tim Burton nunca me desiludiu até agora (o primeiro filme que vi dele foi o "Eduardo Mãos de Tesoura" e fascinou-me completamente, era eu uma criança).
Eu li este livro em Português e, embora a tradução esteja muito bem conseguida, acho que ficas a ganhar se leres o original. Fá-lo, e depois diz aqui à Companhia o que achaste!
Antes de escrever a minha opinião, não tinha reparado, mas a Liliana Lima também já tinha posto a dela há algum tempo. Visita-a e diz-me lá se não ficas ainda com mais curiosidade em ler o livro... http://companhiadasletras.blogspot.com/search/label/Burton
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