2009/04/16

Cândido - Voltaire

Este foi um dos livros mais divertidos que li nos últimos tempos. Nele, Voltaire insurge-se contra o optimismo simplista e as utopias.

«- Que é isso de optimismo? - perguntou Cacambo.
- Ai! - respondeu Cândido -, é a teimosia de sustentar que tudo está bem quando tudo está mal.»

É interessantíssimo ver a crítica mordaz do filósofo francês à "metafísico-teológico-cosmolólogonigologia" (visando sobretudo os filósofos alemães Leibniz e Wolff) e satirizando a ideia de que «quantos mais males particulares houver, mais o bem geral aumentará», visto que «as coisas não podem ser de outra maneira: porque, tendo tudo sido feito para um fim, necessariamente o foi para o melhor dos fins». Curioso é também a personagem principal, no seu périplo pelo mundo, chegar à cidade de Lisboa no fatídico dia 1 de Novembro de 1755 e assistir ao famoso terramoto.

«Enfim, menina, tenho experiência, conheço o mundo. Podeis entreter-vos a pedir a todos os passageiros do navio que contem a sua história, e não encontrareis um só que não maldiga a sua vida e se não julgue muitas vezes o mais infeliz dos homens. Se assim não for, deitem-me ao mar de cabeça para baixo.»

Só não leva mais estrelas, porque sinceramente estava à espera de um livro um bocadinho melhor (tal era a expectativa que tinha em relação a ele) e não tão semelhante ao O Ingénuo.

7 estrelas

2009/04/07

À Procura de Sana - Richard Zimler

Como apreciador da saga Zarco que sou, não posso dizer que este livro me tenha empolgado tanto como O Último Cabalista de Lisboa, Goa ou o Guardião da Aurora e, claro, A Sétima Porta.

No geral, gostei. Na realidade, não tinha grande curiosidade em ler este livro, mas após alguma "insistência" de uma amiga (que me disse para o ler, mas que me avisou que não era tão bom como os outros), decidi-me a dar-lhe alguma atenção. Pelo facto de não estar à espera de uma grande obra literária, as expectativas acabaram por ser superadas.

É uma história um bocado complexa (e a determinadas alturas um pouco desinteressante, especialmente quando é narrada a história da infância de Sana, por exemplo), mas o senhor Zimler já nos habituou a isso mesmo, não é verdade? O que acabou por me cativar mais neste livro foi mais o "ambiente" do que propriamente a história da busca de Sana. Ou seja, achei bastante interessante o retrato das relações entre palestinianos e israelitas e tudo o que está implicado, mais do que do resto (telefonemas e viagens para aqui e para ali e sei lá mais o quê). Quem gosta do Zimler, não se sentirá defraudado com este livro. Mas a quem não conhecer (ou não gostar), não recomendo que este seja um primeiro livro.

7 estrelas

2009/04/06

O Último Minuto na Vida de S. - Miguel Real

A grande interrogação que surge quando lemos o título deste livro é: mas afinal, que significará aquele "ésse ponto"? O que será, ou melhor, quem será, a pessoa a que se refere aquela letra?

Ainda demoramos algum tempo a perceber quem será "ésse ponto" mas após as primeiras pistas, não restam dúvidas. Para não estragar a surpresa a futuros leitores (porque julgo que um dos méritos do livro é precisamente fazer-nos descobrir que personagem é), só posso dizer que é surpreendente a revelação da pessoa que é e que nunca será nomeada no texto (nem ela, nem as pessoas mais próximas que a acompanham), mas de que todos já ouvimos falar quase de certeza, por esta ser uma história sobejamente conhecida.

E no entanto... No entanto, o que não é sobejamente conhecido é o amor que vemos retratado ao longo das páginas deste livro, um amor fortíssimo, mas condenado a não sobreviver. Num espaço de 60 segundos, a vida de "ésse ponto" passa-lhe à frente dos olhos, misturando passado com presente, até ao momento derradeiro. Este é um livro para ler com atenção, não fosse ele também o retrato de um Portugal mergulhado numa ditadura e incapaz de se modernizar (europeízar) após da queda da mesma.

Já tinha ouvido falar de Miguel Real, mas não tinha grande curiosidade em ler nada dele. Agora sei que isso era um erro, pois acabei por ficar bastante surpreendido com a maneira de escrever dele e, só por isso, valeu a pena o tempo que lhe dediquei. E fiquei com vontade de ler mais (apesar de os outros livros parecerem romances históricos pesadões) - Quem sabe se também quanto a isso não estarei igualmente enganado?

7 estrelas